(Para meu filho João e todos os filhos nossos)
Espelho (esse seu
eu tão semelhante ao meu)
Não sei ao certo se foi um falsete no
riso ou um olhar de improviso, ou um sustenido na voz mutante, ou no olhar
distante e errante balançando na rede azul com rosas brancas e varandas desarrumadas,
bem no canto da sala, moldurada pela janela, aquela que retrata a vida ali
envolvida que eu vi você. Surpresa e arrepiada, embevecida e enamorada, laçada,
boquiaberta, dispersa, tão eu a lhe enxergar. Piscando, arrogante, intrigada,
encasquetada como a nova fala do seu pensar. Eu me encontrava, me enternecia me
renovava, naquela sala naquele jeito, no seu conceito, nas suas novas, no seu
som, nos seus amigos, nas meninas do colégio, nos seus pelos, no nariz grego,
em suas mãos, nos seus dedos, no meu olhar fluindo do seu olhar. Eu começava a
rir e a sentir que acreditava na escala, no trampolim, na mira discreta das
suas sobrancelhas, nas bobagens e nas asneiras que eu quis ouvir. E me arrastei
ao canto bem perto da rede para sentir seu encanto, que coisa linda, no entanto
a doçura do seu olhar! Meu filho João, quanta coisa linda guardada no seu eu
lhe expressa agora e um alívio adentra-me e aninha-se num pacote de presente, a
cura para o mais doente, o mais insano pretendente. Quase perfeito esse espelho
entre nós dois e tanta coisa que fala tantos desejos e pretensões, sua vontade
de migrar, feitio do replicador das nossas almas nômades, aproxima esse reflexo
do meu eu assim a projetar o seu e, eu me regozijo por me conhecer louca e
mansa a querer sonhar e sonhar e cultivar aquelas margaridas amarelas no jardim
secreto dos nossos mais lindos sonhos. (Theresa
Russo).
Me pergunto se toda mãe sente com tanta intensidade essa mágica louca descrita aqui! Uma viagem encantadora dentro do universo de uma vida inteira refletida apenas num olhar! Amiga... Me emocionei e senti o nó na garganta! Que dádiva maravilho ser mãe! Não apenas a parturiente, mas MÃE!
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